quinta-feira, 25 de setembro de 2008

KOVACH FALA

O chefe do “Comitê dos Jornalistas Preocupados”, este do post abaixo, passou por uma universidade do norte de Portugal pelos idos de 2007 e falou sobre o que pensa a respeito da reportagem. Vale o registro, vale prestar um pouco de atenção.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

OS NOVE MANDAMENTOS


Caso o jornalismo fosse uma religião, quais seriam os mandamentos de seus seguidores?

Não com a intenção de criar uma seita, mas sim de elaborar um manual de conduta para jornalistas, dois norte-americanos lideraram a criação de algo que chamaram de “Comitê dos Jornalistas Preocupados” e saíram pelos EUA para ouvir algumas pessoas durante dois anos. Era 1997.

Vinte e uma discussões públicas e três mil pessoas consultadas depois – sendo cerca de 300 jornalistas -, Bill Kovach e Tom Rosenstiel compilaram as conclusões e lançaram “Os elementos do Jornalismo – O que os jornalistas devem saber e o público exigir”.

Em algum lugar na orelha da publicação, diz que o livro está escrito para jornalistas, mas que qualquer cidadão que estivesse curioso em saber porque as coberturas noticiosas andam tão ruins deveria lê-lo. Não recomendo isso.

“Elementos do Jornalismo” é um profundo e comprometido mergulho na busca de respostas para alguns problemas da profissão. Mas é também um dedo na ferida de quem já passou por uma redação e já descobriu do que são feitas as leis e as salsichas. Por isso, é justamente a sua relação entre a teoria e a prática que o torna tão interessante. Para os de fora, soaria ficção científica.

Mas esse não é um livro apocalíptico.

“Elementos” tem como grande contribuição sintetizar os nove mandamentos para um bom jornalismo. Alguns tão óbvios que dá vontade de chorar quando lembramos que não estão sendo praticados, e que por isso estão ganhando um livro. Um exemplo, o primeiro mandamento: “A primeira obrigação do jornalismo é com a verdade”.

Definitivamente, Jason Blair não leu este livro.

“Elementos” é mais do que um aparente guia moral de "recém-formados jornalistas virgens cristãos de bom coração". Kovach e Rosenstiel provam por A+B que cada um destes nove mandamentos possui uma carga de relevância visceral para quem se diz jornalista, e ajudam a compreender como, na verdade, é simples fazer jornalismo: em resumo, é uma questão de caráter. A pesquisa traz dados, números, cases e toda uma sorte de outras boas justificativas para embasar isso.

Por fim, apenas para manter o óbvio, este livro deve ser lido sob a ótica de um trabalho organizado através da realidade norte-americana. Isso pode trazer uma sensação que transita entre o tédio e o surpreendente, principalmente quando se percebe como o pensar jornalismo ainda engatinha por nossas bandas.

domingo, 7 de setembro de 2008

101 DIAS


Cheguei às últimas páginas de uma bela lição de jornalismo e competência profissional: “101 dias em Bagdá”, da igualmente bela jornalista norueguesa Asne Seierstad (foto), conhecida também por escrever “O livreiro de Cabul”. Nele, a repórter narra as agruras e os obstáculos de contar a história de iraquianos que, após anos de uma ditadura implacável, se vêem à frente de bombas e estilhaços que irrompem janelas e portas matando família inteiras, ao mesmo tempo em que tentam tocar a vida como se nada estivesse acontecendo. Até mesmo para uma jornalista escandinava vinda de um país frio em que nada parece acontecer - mas que possui um vasto currículo de cobertura de outras guerras - aquele cenário é brutal. Ela chora, pelo menos umas duas vezes até agora.

Paralelo ao produto de seu trabalho, ela descreve os desdobramentos e os obstáculos que precisa superar quase diariamente apenas para poder mandar seus artigos aos jornais para os quais trabalha, os boletins para rádios européias e canadenses, as entradas ao vivo para televisões de um punhado de países... ufa!

Foi neste capítulo que eu fiquei com vergonha.

“101 dias em Bagdá” é uma leitura envolvente e que flui graças à tensão da narrativa e ao seu conteúdo histórico. São histórias de Mohameds e Fátimas que a televisão não mostrou, e nem poderia. Provavelmente também choraríamos.

Em tempo: não sei se compraria esse livro, mas gratamente caiu-me às mãos como cortesia após ter a oportunidade de conhecer pessoalmente a própria Asne. Em uma concorrida coletiva em uma tarde quente de Porto Alegre, tive a oportunidade de fazer a primeira pergunta a ela – uma norueguesa que só conhecia até então pelo nome na capa de “O Livreiro de Cabul”.

- Das coberturas que você vez até hoje, qual foi a mais difícil e por que?
(Como jornalista, sempre fico curioso em saber os obstáculos das matérias mais difíceis e como se sair delas)
- Humm... I don’t know. (Pensativa). Esta é uma resposta difícil. Acho que o Iraque, por causa das circunstâncias.

Um bom motivo para não perder “101 dias em Bagdá”.