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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

GUIANA FRANCESA II

Uma sugestão de literatura meio romance, meio reportagem. É o típico "baseado em fatos reais". Papillon conta a história de um francês condenado injustamente à prisão perpétua na Ilha do Diabo (Guiana Francesa), na década de 1930. Na fuga que conseguiu empreender, há uma excelente história permeada por registros geográficos sobre essa região do mundo tão pouco comentada. Vai do belíssimo Mar do Caribe ao um leprosário de dar coceira no leitor.

Foi tão comentando quando do lançamento que virou filme. Mas o livro é bem melhor e mais enriquecedor.


Não bastasse toda essa aura em volta da história real de um francês que escapou da prisão perpétua de uma cadeia num lugar inóspito e misterioso, mais um fator enriquece Papillon.

Um brasileiro chamado Platão Arantes jura que o sujeito que assinou a obra e entrou para a história na verdade é um falsário. O verdadeiro Papillon morreu no Brasil, em Roraima.

Ficou curioso? Tem mais aqui.

E leia o livro.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

OS NOVE MANDAMENTOS


Caso o jornalismo fosse uma religião, quais seriam os mandamentos de seus seguidores?

Não com a intenção de criar uma seita, mas sim de elaborar um manual de conduta para jornalistas, dois norte-americanos lideraram a criação de algo que chamaram de “Comitê dos Jornalistas Preocupados” e saíram pelos EUA para ouvir algumas pessoas durante dois anos. Era 1997.

Vinte e uma discussões públicas e três mil pessoas consultadas depois – sendo cerca de 300 jornalistas -, Bill Kovach e Tom Rosenstiel compilaram as conclusões e lançaram “Os elementos do Jornalismo – O que os jornalistas devem saber e o público exigir”.

Em algum lugar na orelha da publicação, diz que o livro está escrito para jornalistas, mas que qualquer cidadão que estivesse curioso em saber porque as coberturas noticiosas andam tão ruins deveria lê-lo. Não recomendo isso.

“Elementos do Jornalismo” é um profundo e comprometido mergulho na busca de respostas para alguns problemas da profissão. Mas é também um dedo na ferida de quem já passou por uma redação e já descobriu do que são feitas as leis e as salsichas. Por isso, é justamente a sua relação entre a teoria e a prática que o torna tão interessante. Para os de fora, soaria ficção científica.

Mas esse não é um livro apocalíptico.

“Elementos” tem como grande contribuição sintetizar os nove mandamentos para um bom jornalismo. Alguns tão óbvios que dá vontade de chorar quando lembramos que não estão sendo praticados, e que por isso estão ganhando um livro. Um exemplo, o primeiro mandamento: “A primeira obrigação do jornalismo é com a verdade”.

Definitivamente, Jason Blair não leu este livro.

“Elementos” é mais do que um aparente guia moral de "recém-formados jornalistas virgens cristãos de bom coração". Kovach e Rosenstiel provam por A+B que cada um destes nove mandamentos possui uma carga de relevância visceral para quem se diz jornalista, e ajudam a compreender como, na verdade, é simples fazer jornalismo: em resumo, é uma questão de caráter. A pesquisa traz dados, números, cases e toda uma sorte de outras boas justificativas para embasar isso.

Por fim, apenas para manter o óbvio, este livro deve ser lido sob a ótica de um trabalho organizado através da realidade norte-americana. Isso pode trazer uma sensação que transita entre o tédio e o surpreendente, principalmente quando se percebe como o pensar jornalismo ainda engatinha por nossas bandas.

domingo, 7 de setembro de 2008

101 DIAS


Cheguei às últimas páginas de uma bela lição de jornalismo e competência profissional: “101 dias em Bagdá”, da igualmente bela jornalista norueguesa Asne Seierstad (foto), conhecida também por escrever “O livreiro de Cabul”. Nele, a repórter narra as agruras e os obstáculos de contar a história de iraquianos que, após anos de uma ditadura implacável, se vêem à frente de bombas e estilhaços que irrompem janelas e portas matando família inteiras, ao mesmo tempo em que tentam tocar a vida como se nada estivesse acontecendo. Até mesmo para uma jornalista escandinava vinda de um país frio em que nada parece acontecer - mas que possui um vasto currículo de cobertura de outras guerras - aquele cenário é brutal. Ela chora, pelo menos umas duas vezes até agora.

Paralelo ao produto de seu trabalho, ela descreve os desdobramentos e os obstáculos que precisa superar quase diariamente apenas para poder mandar seus artigos aos jornais para os quais trabalha, os boletins para rádios européias e canadenses, as entradas ao vivo para televisões de um punhado de países... ufa!

Foi neste capítulo que eu fiquei com vergonha.

“101 dias em Bagdá” é uma leitura envolvente e que flui graças à tensão da narrativa e ao seu conteúdo histórico. São histórias de Mohameds e Fátimas que a televisão não mostrou, e nem poderia. Provavelmente também choraríamos.

Em tempo: não sei se compraria esse livro, mas gratamente caiu-me às mãos como cortesia após ter a oportunidade de conhecer pessoalmente a própria Asne. Em uma concorrida coletiva em uma tarde quente de Porto Alegre, tive a oportunidade de fazer a primeira pergunta a ela – uma norueguesa que só conhecia até então pelo nome na capa de “O Livreiro de Cabul”.

- Das coberturas que você vez até hoje, qual foi a mais difícil e por que?
(Como jornalista, sempre fico curioso em saber os obstáculos das matérias mais difíceis e como se sair delas)
- Humm... I don’t know. (Pensativa). Esta é uma resposta difícil. Acho que o Iraque, por causa das circunstâncias.

Um bom motivo para não perder “101 dias em Bagdá”.

sábado, 7 de junho de 2008

FAMA E ANONIMATO


"A arte de sujar os sapatos"

A obra a estrear o blog não foi escolhida ao acaso. Embora não seja o pioneiro, Gay Talese foi o primeiro a sintetizar o fator primordial para uma boa reportagem: sujar os sapatos. Autor de um estilo classificado por muitos como elegante, o norte-americano de 76 anos ainda hoje é admirado, e uma inspiração para uma geração de jovens profissionais. Sensível, observador e perseverante, Talese é um repórter perfeccionista que conseguiu obter sucesso e reconhecimento indo na contramão do conceito de que um bom jornalista é um ser apenas obcecado pelo furo. Talese é um obcecado pela descrição fiel e honesta da realidade.

Seu método consiste antes de tudo em estar nas ruas, circulando e observando (por isso, sujando os sapatos), atrás de personagens e histórias de todos os tipos de pessoas. Em “Fama e Anonimato”, como subtende-se do título, estão as histórias de famosos e desconhecidos. O texto prima pelo estilo literário, como o próprio já declarou, necessário para retratar principalmente os anônimos “de tal forma que o leitor possa visualizá-lo” (Jornal O Estado de S.Paulo, 22 de abril de 2004).

Entre as histórias retratadas em “Fama e Anonimato”, estão a dos operários que construíram a ponte Verrazano-Narrows, em Nova York, no início da década de 1960. Talese acompanhou a rotina dos operários, visitando o canteiro de obras, o que permitiu criar uma rara intimidade com os entrevistados. Quarenta anos depois, o repórter volta ao local e revê alguns dos personagens que descreveu. A de Adlei Whitman, responsável pelos obituários do jornal New York Times na década de 1950. Durante vários anos, Whitman foi o autor de perfis de pessoas que estavam pela hora da morte. Apelidado por Talese de “Senhor Má Notícia”, o jornalista escrevia textos que ficavam na gaveta do jornal, somente esperando que o personagem da matéria morresse. E Frank Sinatra, em uma reportagem antológica realizada sem ouvir uma única vez o cantor, baseada apenas nos depoimentos de pessoas próximas ao artista.